
A mistura já é comum na Europa e vem chegando aos poucos no Brasil. Por lá, Il Divo, que se apresenta em São José no dia 19 de maio na Arena Petry, é considerado o mais bem-sucedido grupo de crossover clássico. Aqui, a Camerata de Florianópolis é um dos exemplos mais próximos dos catarinenses fazendo muito sucesso com o estilo, que mistura instrumentos de orquestra e de banda, como violinos e guitarras.
Regida pelo maestro Jeferson Della Rocca foi em 1995 que a Camerata de Florianópolis decidiu incluir o gênero popular nas apresentações da orquestra e, apesar de hoje reunir públicos de 50 mil pessoas em shows, o espaço foi difícil de ser conquistado.
— Por muito tempo houve um preconceito muito grande de juntar quem faz a música erudita com o gênero popular. Mas a gente teve, desde o início, essa luta de desmistificar essa questão do erudito e trazer a música popular para esse universo da orquestra — afirma Della Rocca.
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A batalha tem sido boa. Nos últimos 10 anos a Camerata ganhou versões em Rock, Pop, tocou os sons clássicos do cinema e até mesmo o Reggae entrou no set list da orquestra.
— A gente fez o projeto Marley in Camerata e, até então, eu não conhecia nenhum trabalho de uma orquestra de cordas tocando reggae. E eu tenho certeza que 70% do público que estava ali assistindo a estreia, que foi um alvoroço aqui em Florianópolis, estava pela primeira vez vendo uma orquestra na frente — acrescenta o maestro.

Enquanto o novo público foi sendo conquistado, com agendas de até 80 shows por ano, o maestro precisou enfrentar os fãs tradicionais. Segundo Della Rosa, a maior dificuldade foi contentar o público da própria música erudita.
— Muita gente, que hoje em dia, inclusive, começou a fazer também o crossover, falava que a gente estava se prostituindo, “onde já se viu uma orquestra de música erudita tocar rock”. A gente recebeu muita crítica de orquestras de outros estados… e que hoje em dia estão fazendo igual — brincou.
A violinista Iva Giracca, que hoje faz sucesso internacional com o crossover de clássico e rock e chegou a dividir palco com Steve Vai no Rock in Rio 2015, conta que também teve receio no início.
— Eu era muito careta. Quando eu era adolescente eu pensava que só música erudita era boa e o resto é ruim. Mas em 1998 tive uma oportunidade de fazer parte de um disco e descobri que era maravilhoso. Me puseram em um estúdio e toquei o que eu queria. Uns dois dias depois me mandaram uma fita cassete e me disseram: olha, isso aqui é o que ficou com o que você gravou. E eu fiquei encantada — conta Iva com bom humor.
Depois da experiência, a violinista faz questão de dar visibilidade para o autoral de bandas que fazem crossover. Ao lado da cantora lírica Carla Domingues, que também faz sucesso no vocal do Rock in Camerata, ela montou uma banda que mistura o gênero erudito com o heavy metal, a No One Spoke.
— A maior dificuldade é conseguir fazer com que bandas autorais, que criam esse som no Brasil, tenham a mesma visibilidade que as bandas que trazem isso de fora — enfatiza Iva.

Para Carla Domingues, de uns 15 anos para cá o vocal feminino, principalmente, começou a ser inserido com mais frequência nos sons de rock.
— O lírico começou a ser comum em bandas, e fora do país já faz muito sucesso com bandas como Nightwish, Épica… fazendo esse metal sinfônico. E o Brasil está indo por esse caminho — comenta com esperanças.
Thiago Moser, que também faz parte da No One Spoke no contrabaixo, baixo acústico e baixo elétrico, acredita que o ponto alto desse estilo musical é ter liberdade na construção dos sons. Enquanto a música erudita é estruturada, assim como o Rock e o Metal, que precisam seguir determinados padrões para serem considerados parte de um estilo musical, o crossover permite criar.
— Por exemplo, nessas duas composições autorais que acabamos de gravar, na primeira eu toco baixo elétrico e na segunda, pela atmosfera da música, é muito mais interessante poder usar o baixo acústico, com arco, e poder ter uma outra sonoridade — descreveu Thiago.
— É como um pintor ter mais cores — acrescentou Iva Giracca.
Do outro lado, o vocalista Dudu Fileti, ex-participante do The Voice Brasil e que tem uma importante carreira se apresentando com o gênero popular, comenta sobre o aprendizado de dividir o palco com orquestras.
— É quebrar barreiras. Quando você vê uma beira-mar lotada para assistir a Camerata, você vê que está na hora de parar de dividir: tudo é música.
Sendo o melhor exemplo para a fala de Dudu, Rodrigo Mattos, que é vocalista de bandas de rock, já cantou ópera com a Camerata de Florianópolis, num espetáculo sobre o romance Frankenstein.
— Sou um crossover ambulante — brinca Rodrigo — Então teve dois lados: quem só tocava erudito entrou para o rock e nós que nos adaptamos a esse universo — finaliza.
Agenda: Crossover pelo estado
Para quem quer curtir um show no estilo musical, e ainda comprar ingressos com descontos do Clube NSC, a Versar separou as principais apresentações agendadas para os próximos dias.
Dia 11 de abril a Camerata retorna ao palco do CIC com o espetáculo Música para Cinema. Os arranjos foram elaborados pelo compositor e pianista Alberto Heller, e contará com a participação dos músicos convidados. Ao longo do concerto, cenas dos filmes são projetadas num telão, unindo os universos do som e da imagem num espetáculo inesquecível. Desconto de 20% para sócio do Clube NSC e acompanhante na compra do ingresso antecipado, site Blueticket.
Em maio, dia 19, o grupo europeu Il Divo se apresenta em São José, na Arena Petry, com a turnê mundial Timeless, que promete uma nova experiência ao som de clássicos antigos e atuais, cantados em quatro línguas, e uma produção cheia de emoção que proporcionará ao público uma viagem no tempo. Desconto de 20% exclusivo para sócio do Clube NSC e acompanhante (setores Cadeiras Ouro, Prata e Bronze) na compra do ingresso antecipado, site Ingresso Nacional.
A banda No One Spoke está gravando o primeiro LP com músicas autorais e em breve lançará o primeiro vídeo clipe, mas adiantou para a Versar um trecho do som autoral Sigh, executado por três integrantes da banda: Iva Giracca, Carla Domingues e Thiago Moser. Confira: