
POR JORGE JR.
A lateral-esquerda do Atlético de Madrid tem dono, por mérito esportivo e qualidade técnica. Mas desde 10 de junho de 2013, quando veio ao mundo o pequeno Tiago, o titular de um dos maiores clubes do mundo percebeu que a prioridade da vida passou a ser outra: ser pai. Filipe Luís Kasmirski, 32 anos, tem três filhos, uma Copa do Mundo nas costas, e vem aprendendo muito a cada dia com as crianças fruto do seu casamento com a espanhola Patrícia Buño Rodriguez. E é um sentimento que nem ele, e nem outros tantos pais, conseguem explicar.
— Foi uma sensação muito estranha, é uma coisa nova na vida. Você não sabe e fica na expectativa de como vai ser a cara dele, de tamanho, se vai ser parecido com quem, e é uma sensação muito diferente. Como o Tiago nasceu de cesariana, aqui (na Espanha) eles botam o bebê no colo do pai e fiquei quase uma hora com ele e foi uma sensação diferente. Não posso dizer o que senti realmente porque nunca tinha sentido nada parecido. Mas a partir daquele momento eu sabia que a minha vida tinha mudado para sempre.
Por telefone, o jogador respondeu perguntas que fugiram do assunto futebol para abrir o coração sobre o seu relacionamento com Tiago, 5 anos, Sara, 3, e o pequeno Lucas, de apenas cinco meses, que estão bombando também nas redes sociais com as fotos fofas postadas por Filipe e Patrícia.
Apesar de estar em pré-temporada na Espanha, onde mora com a família, o jeito de celebrar o Dia dos Pais, comemorado neste domingo, foi em frente à churrasqueira, assando carne e jogando conversa fora, em dois idiomas, com as crianças.
Como é a rotina com os três filhos durante a temporada do futebol na Europa?
Como tenho bastante tempo em casa, só treino de manhã, levo para o colégio e às 17h eu busco. Eles querem ficar um pouco lá ou então vem pra casa. Tento ficar brincando com os dois mais velhos. Aí vem a hora do banho, dou no Tiago e na Sara juntos e depois no bebê. Aí eles jantam, a minha mulher se encarrega desse assunto (risos), aí mais tarde levo eles para a cama. Nessas horas é muita intensidade e muita brincadeira.
Dois nasceram na mesma cidade e a Sara na Inglaterra, por conta dos time que você jogava. Quais das três gestações deu mais trabalho para acompanhar?
Lucas e Tiago nasceram em Madri e a Sara em Londres. O Tiago a gente acompanhou bem a gravidez toda, foi bem fácil de levar. No caso da Sara, teve a mudança no meio da gestação, a gente foi pra Londres, e a mudança estressa muito, estressou a minha mulher e por um momento a bebê deixou de ganhar peso, mas deu tudo certo. A Sara nasceu com pouco peso, ficou cinco dias na UTI, na incubadora, mas graças a Deus deu tudo certo. A mais complicada foi mesmo a da Sara, porque era em um outro país, tudo diferente, doutores que só falavam em inglês, então tive que me esforçar bastante pra conseguir acompanhar.
Qual teu lugar favorito para ficar com os filhos?
O meu lugar favorito é aqui em casa. Tem a parte da churrasqueira, um campinho de futebol lá fora que tem bastante jardim. Enquanto eu estou fazendo carne eles sentam ali e comem alguma coisa. Aí depois a gente vai no campo e brinca, vou plantar alguma coisa com a Sara, jogar bola com o Tiago. O bebê ainda é pequeno, mas acompanha com a gente.
Que ensinamento eles trouxeram para a tua vida?
O maior ensinamento que um filho traz para um pai é no momento em que você só pensa em si, faz tudo por você para melhorar a qualidade de vida, mas a partir do momento que um filho nasce isso muda. Você já não é mais prioridade, nem mesmo da sua vida. Demonstra que todo ser humano é egoísta, a gente só pensa na gente, mas quando um filho nasce a gente muda completamente e a prioridade total é deles. Era uma coisa que eu não esperava que eu fosse mudar desse jeito, o meu conforto, as minhas horas de descanso, as horas que eu poderia dormir, de abrir mão pela alegria do seu filho. Esse foi o meu maior ensinamento, você para de viver a sua vida para viver a vida e a felicidade deles. Isso ficou bem marcado pra mim.
O Lucas ainda não, mas a Sara e o Tiago já entendem quem é o pai deles, o que ele faz e o que representa para muita gente?
Elas cresceram assim, né? Desde cedo foram no estádio, acompanhando jogos, estão acostumados com as fotos que as pessoas vêm tirar. O Tiago já começou a falar “papai, você é famoso, todo mundo pede foto contigo”, e ele quer sair nas fotos também. É importante que eles vivam nesse ambiente do futebol porque é sadio, tem muitos amigos e eles podem aprender os valores do esporte. Também do clube (Atlético), que passa valores importantes.
Tem alguma coisa que o teu pai (Moisés) fazia com você quando criança que repetes com os três?
O que eu tento repetir é o churrasco, né? Tentei até imitar um pouco a churrasqueira que o meu pai tinha em casa e unia muito a nossa família, é um lazer. O Tiago é muito parecido comigo, gosta de baralho, dominó, isso eu sigo fazendo o que meu pai fazia. Outra coisa que tento repetir é ir na missa todo domingo. O meu pai sempre me levava e me sinto muito gratificado de fazer a mesma coisa com eles.
Curte os comentários que as pessoas fazem nas postagens que você e sua mulher publicam com as crianças no Instagram, que fazem sucesso na internet?
Nunca fui a favor de expor os nossos filhos, mas como temos muitos amigos que moram longe e só seguem mesmo nossa família nas redes sociais, é uma forma de aproximar todo mundo deles. Eu sei que acaba expondo um pouco a vida deles, mas por outro lado conseguem ver que somos pessoas normais, que temos problemas em casa na hora de educar filhos, de lidar em momento de briga e de choro das crianças, que somos iguais a todo mundo. É legal colocar os vídeos e as fotos no Instagram de momentos especiais das nossas vidas e que as pessoas se sintam identificadas com isso, porque é uma forma de unir um fã com um ídolo. Acabo mostrando como é a vida de um pai com tantos filhos e curto muito os comentários que fazem a respeito. Como falei, somos pessoas normais e não um tipo de Deus somente por jogar futebol.
Qual é a língua oficial da casa de vocês, já que o pai é brasileiro e a mãe é espanhola?
Eu falo em português com os meus filhos e a minha mulher fala em espanhol. Como moram na Espanha, vão para a escola e tudo mais, falam espanhol. Como eu sempre só falo português, eles entendem tudo. Só o Tiago que começou, agora quando fomos ao Brasil, a falar em português e se soltar bastante. A minha filha ainda não se arrisca, ela entende absolutamente tudo, mas quando falo em português ela me responde em espanhol. Não é fácil você falar todos os dias em um idioma e eles te responderem em outro, mas eu sei que vai ser bom para o futuro deles, estou sendo bem constante nesse ponto, porque sei que eles vão me agradecer.
Como é poder trazer eles para Jaraguá e mostrar um pouco de como iniciou a vida do pai?
Agora que eles estão começando a entender um pouco de onde o pai deles nasceu, que é brasileiro. Eu levo e tento mostrar um pouco da cidade, mas a gente vai numa época muito ruim que é o inverno, e daí chove e a maioria dos amigos e parentes trabalha. Mas eles já vão entendendo bem, já gostam de ir ao Brasil, perguntam pelos parentes, pelos avós, pelos tios, então já se sentem identificados com o Brasil e vão conhecendo melhor Jaraguá do Sul. É importante que eles saibam e apreciem a nossa cidade.