
Admiro pessoas que conseguem expressar em palavras o que sentem. Entendam, isso não é fácil.
Primeiro por que muitas vezes nem somos nós quem nomeamos nosso sentimento, se enquanto criança choramos alguém já fala por nós: “Está triste. Está brabo. Está com ciúmes. Está fazendo manha.” E aí começa a confusão. Na minha mente eu acabo aceitando que se meu coração dispara é por que alguém me magoou. Se a respiração acelera então alguém me pressionou, e tantos outros exemplos.
Desenvolvemos cedo nossa fala – seja ela uma linguagem verbal ou gestual, nomeamos a tudo e a todos, temos aulas de interpretação nas escolas, escrevemos diários…
Atendo muitos casais e com frequência a reclamação sobre a falta de diálogo é estonteante. Incrível pensar como um ato que para a humanidade deveria ser simples é na verdade tão complicado…
Sabe o que parece? Aquelas intermináveis discussões para descobrir quem nasceu primeiro, se o ovo ou se a galinha.
Frequentes são os relatos de, no dia seguinte a uma discussão – e aparente reconciliação -, quando “os ânimos se acalmaram”, um olhar para o outro e pensar: tudo bem, eu não precisava ter gritado, mas ele(a) sabe que o que fez foi errado e mesmo assim não vai me pedir desculpas? Vai continuar fingindo que começou um novo dia e pronto? Não vai me ligar pra saber se estou bem? Vai ficar esperando que eu mande a primeira mensagem de bom dia?
Para tudo! O importante é que vocês estejam bem novamente ou que você seja o dono da razão? Caramba, então você disse que tudo havia ficado bem só da boca pra fora? Sem perceber a briga se instala novamente e por um motivo que está somente dentro de você: o motivo de não ter tido seu ego acariciado, seu orgulho exaltado e sua razão imposta. Na boa, se não conseguir perdoar no momento seguinte peça um tempo, reflita com atenção, e só responda consciente do que está falando.
Se de fato vocês querem um convívio harmonioso tenham em mente o seguinte: a tragédia começa quando os dois lados acham que tem razão, e acaba quando um dos lados lembra ao outro que entre eles tem amor.
Ai então já não importará quem pronunciou a última palavra, quem pediu desculpas, quem enviou a mensagem da manhã… assim como o que importa é saber que há ovos e galinhas (e não quem nasceu antes um do outro), da mesma forma o que deve importar é o amor e a união de vocês, acima de qualquer ego, de qualquer mágoa, de qualquer orgulho bobo.
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