
O catarinense Renato Bittencourt largou a vida de publicitário e foi estudar a cachaça em Minas Gerais. O mestre cachacier bateu um papo comigo sobre preconceito contra a bebida e o rico universo que envolve a água que passarinho não bebe.
Como que você começou a se interessar por cachaça?
Quando cursava publicidade e propaganda, eu e minha equipe fizemos um trabalho sobre cachaça. A gente queria aprender mais sobre esse universo. Tempos depois, fui morar em São Paulo e lá achei inusitado o fato de as pessoas pedirem drinques com a bebida, ou doses, e ainda pediam pela marca. Pensei: “nossa, lá em Santa Catarina tem tanto preconceito”. Lá, comecei a aprender a beber. Voltei para cá e tive uma lesão no braço que me impede de trabalhar com publicidade. Acabei indo para Minas Gerais estudar cachaça.
Me fala mais sobre o trabalho do mestre cachacier.
Mestre cachacier é quando você é formado como mestre alambiqueiro, master blender e sommelier de cachaça. Na Antonieta, eu desenvolvo o blend com o Arnaldo Ribeiro, que é nosso mestre alambiqueiro. É possível fazer blends com dois tipos de barril, com diferentes envelhecimentos da madeira, deixando a bebida passar um ano em um barril e dois meses em outro. Tem muitas maneiras de fazer. E a legislação ainda permite que se use qualquer tipo de madeira. A cachaça tem um universo de possibilidades e isso é muito rico.
Assista à entrevista completa:
Como é o cenário aqui em Santa Catarina?
Conheço marcas muito boas aqui do Estado, produtores sérios. Mas também conheço outros que vendem aguardente como se fosse cachaça, o que acho desonesto. Tem uma certa resistência, mas é legal ver que as pessoas não gostam por terem referências ruins, aí você apresenta uma coisa muito boa e elas começam a prestar mais atenção na bebida. Costumo fazer treinamentos para ensinar as pessoas a beberem e a valorizarem como um produto nosso, do qual a gente tem que ter orgulho.
Por que as pessoas acabam preferindo outros destilados?
O universo da cachaça é formado por muitos produtores ilegais. Muitos fazem a produção de maneira incorreta, não sabem alambicar. Quando você bebe uma bebida que não é equilibrada, você vai associá-la a algo de baixa qualidade. Mas é a mesma coisa que você beber uma cerveja artesanal e uma cerveja industrial, daquelas bem baratinhas. Você nota diferença. E com a cachaça, com essa nova leva de produtores que tem mais cuidado, está acontecendo isso.

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