
Kevin Spacey foi acusado de assediar sexualmente o ator de Star Trek Anthony Rapp quando este tinha 14 anos, e vários homens durante a produção da série House of Cards — Foto Nicholas Kamm – AFP
Projetos que terminam na gaveta, estreias de filmes suspensas, estúdios ameaçados e a campanha para o Oscar sob incerteza: os casos de abuso sexual envolvendo Harvey Weinstein, Kevin Spacey, Brett Ratner e outros provocaram um grande caos em Hollywood.
Um mês depois do início do escândalo, revelado pelo jornal The New York Times e a revista The New Yorker, a respeito do produtor Harvey Weinstein, acusado por mais de 100 atrizes e ex-funcionárias de assédio, agressão sexual e até estupro, muitas pessoas tomaram coragem para denunciar outros pesos pesados da indústria sobre condutas similares.
Desta maneira aconteceram as denúncias contra Spacey, vencedor de dois Oscar, e o diretor Ratner, entre outros atores, agentes, executivos. São tantas revelações que o jornal Los Angeles Times perguntou em um editorial: “Quem será o próximo?”.
— Espero que todo este caos pavimente um caminho para uma punição na indústria — afirmou a atriz Jessica Chastain em uma entrevista à AFP.
Tim Gray, um dos principais editores da revista Variety, disse que “há escândalos em Hollywood desde a era do cinema mudo, mas era uma pessoa, um incidente”.
— Estou na Variety há 30 anos e nunca vi algo assim — afirmou.
Qualquer projeto com a marca de The Weinstein Company, fundada por Harvey Weinstein e seu irmão Bob, se tornou tóxico, mas há apenas alguns meses isto era um sinal de prestígio.
O diretor Oliver Stone, que em um primeiro momento defendeu o produtor, decidiu pouco depois retirar do estúdio seu projeto sobre a série Guantánamo.
O filme mais recente do estúdio, Amityville: O Despertar, arrecadou apenas 742 dólares em mais de uma semana em cartaz nos Estados Unidos, segundo o site especializado Boxofficemojo.Com. E a empresa está à beira da falência.
Demissões após denúncias
Outros estúdios também foram abalados por escândalos sexuais, como a gigante da internet Amazon, cujo diretor Roy Price se demitiu após denúncias de assédio contra ele.
A crise na Amazon provocou um dano colateral: a muito aguardada série de televisão do diretor David O. Russell (O Lado Bom da Vida) foi “abatida”, explicou a atriz Julianne Moore no programa Live with Andy Cohen.
— Com a derrocada de Weinstein e a questão na Amazon, todo mundo saiu do projeto — afirmou a atriz vencedora do Oscar, que trabalharia com Robert de Niro na série.
Um roteirista que trabalhou por meses em um projeto de série para a Amazon afirmou à AFP que agora é uma incógnita se o projeto será concretizado.

Kevin Spacey
A gigante do streaming Netflix também enfrenta uma crise com as acusações contra Kevin Spacey, protagonista da aclamada série House of Cards.
A produção da sexta temporada — que seria a última — foi suspensa de modo abrupto e o lançamento do filme Gore (sobre o escritor Gore Vidal), também protagonizado por Spacey, foi suspenso.
A Warner Bros rompeu uma parceria de centenas de milhões de dólares com a produtora RatPac de Brett Ratner, que trabalhava em uma adaptação do livro O Pintassilgo.
— Esta é uma lição para todos em Hollywood — afirma Gray.
— Todo mundo é substituível. Kevin Spacey era a grande estrela de House of Cards, que continuará sem ele.
Os escândalos também afetam a corrida pelo Oscar. A Sony Pictures apostava no filme mais recente de Ridley Scott, All the Money in the World, mas com Spacey como principal, o panorama mudou completamente.
E a apenas quatro meses da cerimônia, “quem sabe que histórias vamos descobrir sobre outros na disputa”, completa Gray.
A Academia expulsou Weinstein no mês passado, mas os outros acusados ainda são membros da organização.
Também existe o escândalo nos bastidores: o representante Tyler Grasham foi demitido de uma prestigiosa agência e outro agente, David Guillod, se demitiu, ambos por denúncias de assédio sexual, enquanto o ator Danny Masterson foi acusado de estupros e foi criada uma petição para que a Netflix cancele sua série “(The Ranch”).
Para Gray, é evidente “que existe algo errado com a indústria”, destacando os problemas de diversidade, denúncias de discriminação contra minorias e mulheres e, agora, de abuso sexual.
— E, embora Hollywood adore um grande retorno, os casos de Weinstein, Spacey e Ratner não podem ser perdoados — conclui.
Com informações da AFP
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