Aceitar o corpo, se entender e se conhecer. O processo para este caminho é intenso e difícil para muitas mulheres. Em tempos em que a imagem vale (quase) tudo, valorizar sua própria beleza e história é uma forma de se libertar. É disso que trata o Outras Meninas, projeto que surgiu inicialmente no Tumblr, foi para o Instagram e virou livro e agora é um dos finalistas na categoria Ilustração no 59º Prêmio Jabuti, o principal prêmio de literatura do país.
Ter o nome na lista dos melhores títulos publicados no Brasil foi uma surpresa para a ilustradora Manu Cunhas. Natural de Tubarão, mas vivendo em Florianópolis, Manu começou o Outras Meninas a partir da própria experiência. A publicação se tornou realidade graças a um financiamento coletivo e a ajuda de um patrocinador que surgiu na última semana do crowdfunding. Produzido de forma totalmente independente, foi inscrito no Prêmio Jabuti deste ano, cujos finalistas foram divulgados nesta terça-feira.
— Queria fazer um exercício de desenho com referências de nus femininos com diferentes corpos de maneira mais realista e variada. Tentei bater uma foto minha para usar de referência e foi uma experiência horrível, para ser sincera. Tive muitas crises de me encarar nua e ao compartilhar a experiência com outras amigas. Então, elas começaram a falar como era difícil se encarar e contar sobre essa relação — conta Manu.
Depois disso surgiu a ideia de desenhar mulheres e contar suas histórias, sempre ligada à relação delas com seus corpos. O projeto Outras Meninas surgiu em fevereiro de 2015, inicialmente no Instagram, onde Manu publica as ilustrações com o relato das mulheres.
Livro Outras Meninas – Foto Manu Cunhas, divulgação
Histórias reais
Os desenhos em aquarela são produzidos a partir das fotos delas nuas acompanhados de um relato anônimo. Muitas narram situações de descoberta da sexualidade, da dureza de não corresponder a um corpo padronizado pela moda, além de episódios de abuso e de aceitação. As histórias também acabam marcando Manu, mas, para ela, não é possível selecionar uma só como a que mais a impactou.
— Elas me marcam de maneira diferente. Na época que desenhei é uma, quando releio é outra. Provavelmente, muda de acordo com o que eu também me identifico naquele momento — explica a ilustradora.
O livro reúne todos os depoimentos postados no Instagram, além de alguns inéditos. Os trabalhos têm estilos e traços que condizem com cada história, pois, segundo ela, cada desenho contava algo por si só.
Formada em Design Gráfico pela Udesc e ilustradora há quase 10 anos, Manu se surpreendeu com o apoio coletivo no financiamento do projeto do livro. Ela vê que as mulheres precisam de mais espaço no mercado editorial e iniciativas como essa podem contribuir para a inclusão de temas e de autoras.
— Acho que a mulher precisa de mais espaço no mercado editorial, seja com trabalhos usando ela como tema central, no protagonismo das histórias, ou na entrada de autoras. Gostaria que a temática fosse mais tratada em todas as mídias, o que ainda bem, está acontecendo aos poucos — explica.
É o mais tradicional e prestigiado prêmio do livro brasileiro. Este ano, contará com 29 categorias. A premiação é uma iniciativa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que reúne editores, livreiros, distribuidores e creditistas de todo o Brasil.