
Por Lucca Koch – especial
Em novembro de 2018, o importante dicionário de Oxford elegeu como uma das palavras do ano um terno nada animador: “tóxico” e a “masculinidade”. O termo foi selecionado devido seu potencial duradouro e significância cultural.
Mas o que é a masculinidade tóxica?
São características que a sociedade vem atribuindo de maneira estereotipada ao sexo masculino, sendo extremamente nocivas e restritivas aos próprios homens ou às pessoas ao seu redor.
Essas pressões acabam gerando uma série de comportamentos, como a não demonstração de sentimentos, o medo a vulnerabilidade, ansiedade, competição agressiva são alguns exemplos de comportamentos que os homens acabam sendo sujeitados ao longo da sua educação.
A masculinidade baseada no medo, que busca se provar “macho” a todo momento – estimulando violência, fechamento emocional, homofobia e obsessão com dinheiro, sexo e poder – é tóxica. Atitudes negativas como essas estão gerando uma sociedade extremamente violenta, além de deixar os homens emocionalmente restritos, sufocados, que estão adoecendo e morrendo muito mais cedo.
Entre as frases mais ditas pelos pais podemos citar: “Isso é coisa de menininha”, “esse aí vai dar trabalho, vai ser pegador”, “menina tem que ajudar a mãe a cuidar da casa” e muitas outras que já estão enraizadas na nossa cultura. Uma das principais consequências, muitos meninos acabam crescem achando normal objetificar mulheres e muitas meninas crescem achando normal serem objetificadas.
Segundo pesquisa realizada pela Associação Norte Americana de Psicologia estima que 80% dos homens americanos estão com dificuldades para identificar e expressar seus próprios sentimentos. No Brasil os estudos também são alarmantes, pois 75% dos homens brasileiros entre 25 a 44 anos nunca ouviram falar em “masculinidade tóxica”, segundo pesquisa realizada pela Google BrandLab.
Mesmo não havendo ainda muito interesse da população, diferentemente de países como Canadá, Austrália e Reino Unido, vem sendo criados grupos de discussão sobre masculinidade para deixar o machismo para trás. O principal objetivo é realizar uma mudança de mentalidade e mostrar que homem pode sim expressar sentimentos, além de quebrar conceitos tradicionalistas, como “isso é de menino e de menina” e a própria a ideia do “homem machão”.
Esse comportamento também influencia as mulheres
O reforço da cultura machista está também associado as próprias mulheres, que acabam levando esse preconceito adiante. Porém uma grande parcela da sociedade vem combatendo a desigualdade de gênero.
Homens em reconstrução
Estamos começando a viver uma transição, pois aos poucos os homens estão se distanciando da figura do “bad boy”, mesmo que ainda 57% dos homens ainda se sentem pressionados a se comportar de acordo com noções pré-concebidas do que é ser homem. Prova dessa desconstrução é a publicidade apresentando um novo retrato da vulnerabilidade, o que ajuda a difundir estereótipos pré-estabelecidos e citados anteriormente.
Em outrora as marcas associaram-se a figurado do homem machão, mas esse discurso vem sendo quebrado aos poucos e assim gerado estímulos positivos, como a aceitação do próprio corpo e até mostrando pais mais presentes, sendo protagonistas dos cuidados domésticos e dos filhos.
Como podemos confrontar esses padrões?
Homem pode chorar. Homem deve expressar seus sentimentos. Somos todos homens vulneráveis e corajosos para assumir nossa verdade e viver nossa verdade. Vamos questionar paradigmas e quebrar correntes repressivas e pré-concebidas. Nada disso vai afetar a nossa masculinidade!
Para assistir em casa
Se você ficou interessado no assunto, minha dica é assistir ao documentário The Mask You Live In (“A Máscara em que Você Vive”), disponível no NETFLIX, que aborda como a ideia do macho dominante afeta psicologicamente crianças, jovens e, no futuro, adultos nos Estados Unidos.